Que agonia sufocante é começar a escrever qualquer coisa, tão complexo e impedidor é um espaço em branco que não rejeita nada nem pede nada - como dizia Schopenhauer. Talvez o costume de compor redações sobre temas previamente estudados nas provas semestrais às quais me habituei tenha enferrujado a criatividade e competência, antes ligeiramente dominadas, que me garantiam a capacidade de escrever alguma coisa sobre qualquer coisa, back in the Day.
Talvez falar sobre assuntos que aspiram à física teórica, tecnologia militar ou literatura fosse interessante, pensei primariamente, mas o invisível me saltou aos olhos quando resolvi rascunhar a contra-capa do bloco, perfeitamente limpo e novo, de folhas de fichário: eu não sei nada sobre nenhum desses assuntos, concluí.
Bom, não sei nada que ninguém não possa encontrar nos 214.000 resultados para ____ (0,32 segundos) do Google, ou ter lido algo sobre na Quase Super Interessante do último mês (que até tava mais interessante que o usual). Entretanto, se deixasse tais pontos limítrofes influenciarem na produção desse meu teXtículo (He He He ), ele não sairia de mera tentativa. Portanto, ignorarei quaisquer críticas que atestem as idéias infrutíferas aqui publicadas.
Seguido da afronta contra alguma Resistência, uma mera ressalva psicológica que manteria um certo bom humor diante de rejeição, atesto para os devidos fins que não tive tempo pra fazer um blog apresentável, daí o uso seletivo daqueles esquemas prontos do BlogSpot. Destarte, o desleixo vai além de mera incompetência e atinge o limiar da incapacidade [Conste que não rejeitaria alguém que, de boa vontade e bom coração, se sujeitasse a fazer uma cara legal pro blog. Vai que eu posto mais coisa. hehe].
Terminado o prólogo, ressuscita-se o Golem que barrava meu fluxo de idéias e impedia qualquer produção, por mais nonsense que fosse, de se tornar algo mais concreto que pensamentos e idéias espalhados desordenadamente como peças de um quebra-cabeça, recém extraído da caixa, no tapete da sala.
Talvez comentar sobre artigos de revista, atrocidades banais e músicas aleatórias fosse algo que pudesse resultar em alguma coisa mais interessante que as notícias da UOL, quem sabe.
Nesse mês vi um artigo de uma página na Super que falava sobre invisibilidade, resume-se no fato de que cientistas alemães criaram uma estrutura feita de polímero e ouro que desviava a luz incidente sobre a própria sem influenciar em seu destino, tornando, assim, o material (que tinha a espessura aproximada da de um fio de cabelo) invisível a qualquer receptor que dependesse de luz.
Interessante dispor que o fato de o material ser tão pequeno não torna o feito menos fantástico. Massas mais volumosas que nosso fio de polímero e ouro só foram submetidas à invisibilidade de alguns tipos de luz, como a infravermelha.
Citei o episódio da conquista científica pois ele me lembrou das teorias Sci-Fi que eram especuladas por mim e um amigo do colégio, o Marcelo, vulgo Piibur, enquanto aleatoriamente profanávamos aulas (de biologia, principalmente) com pobres (e inocentes) suposições físicas, químicas e matemáticas, reinventando a roda (Reinventing the Steel) e inventando o Efeito Bolha sob a crosta terrestre.
O mais interessante é que, em meio a amistosos de Magic - the Gathering, teorizávamos RailGuns, GaussGuns, invisibilidade, Metal Gears e barcos de controle-remoto. Desnecessário dizer que nenhum deles saiu das planilhas, thank god.
Mudando da água pra cachaça, lembrei da atrocidade banal da qual me referi anteriormente. Vi junto a um colega do pelotão uma necropsia (não é proparoxítona) de uma menina de pouco mais de um ano, da qual foram retirados vários pacotes de cocaína que estavam cuidadosamente alojados em sua caixa torácica. A brutalidade se resume em um método utilizado por traficantes, consistindo em raptar uma criança, extrair-lhe alguns órgãos e posicionar os papelotes da droga. Uma pessoa passa carregando a criança que, visivelmente, dorme em seu ombro passa despercebida de fiscalização. Claro, o vídeo é repulsivo e a matéria no email é passível de dúvida, mas considerando que seja verdade, da forma que me foi apresentada, é supérfluo comentar o quão selvagem e cruel isso chega a ser. Quase faz chorar colocar-me no lugar dos familiares da menina, ou no lugar dela mesma.
Tal passagem me faz ter AINDA MAIS apreço pelos farinheiros e maconheiros, tratados amplamente como “doentes”, que dividem o espaço com todo mundo na sociedade que nos aguarda toda vez que cruzamos o portão da rua para qualquer coisa. Chega a ser pavoroso pensar que isso acontece e não há ordem nem marcação lógica para que marginais exponham nossos entes queridos, ou nós mesmos, a atrocidades só antes vistas nós vídeos de decapitação no Oriente Médio.
O pior de tudo é encarar fatos tão marcantes com um tom débil e banal, às vezes fascinante, de uma torcida nos lábios e inclinação da cabeça, pra depois lembrar que nos esquecemos de pegar alguma coisa na cozinha, ou que algum filme vai começar e deixar que o mundo nos engula, enquanto a Violência travestida faz seu ‘trottoir’, assim dito por Humberto Gessinger em algum lugar no tempo.